A Capadócia é uma região histórica da Turquia (em turco: Kapadokya). A Capadócia se caracteriza por ter uma formação geológica única no mundo e pelo seu patrimônio histórico e cultural. Em 1985 foi incluída pela UNESCO na lista do Patrimônio Mundial. Há assentamentos humanos na região desde milhares de anos. Algumas civilizações antigas floresceram aqui e deixaram a sua marca na Capadócia. Seu nome parece vir da palavra persa Katpatuka que quer dizer Terra de Belos Cavalos. Seu local mais famoso é o Parque Nacional de Goreme que abriga inusitadas formações geológicas que tornam a Capadócia famosa no mundo inteiro.
Abaixo, mapa da Turquia com a região da Capadócia ao centro.
Imagens do Vale de Goreme na Capadócia
Seu núcleo urbano mais antigo é a localidade de Çatalhöyük que é uma cidade que data do período neolítico (c. 6500 a.C.). Nela foram encontrados o que se considera o início da história da Anatólia (porção asiática da Turquia). Dentre os achados arqueológicos há um afresco mural de cerca de 6200 a.C. que apresenta em primeiro plano as casas da localidade e ao fundo um vulcão em erupção. O afresco está exposto no Museu das Civilizações da Anatólia, em Ancara (capital turca), e é provavelmente a pintura paisagística mais antiga do mundo.
Afresco neolítico que retrata a cidade de Çatalhöyük
Abaixo ilustração moderna da antiga cidade de Çatalhöyük
Entre os anos de 5000 e 4000 a.C., a Capadócia teve vários principados independentes. A cidade mais importante durante esse período foi Puruskanda. Dezessete desses principados uniram-se em 2300 a.C. para lutar contra o rei de Acade, Naram Sin (2254 - 2218 a.C.), constituindo a primeira de muitas alianças na história da Anatólia. No início do segundo milênio a.C., a Anatólia atraiu numerosos habitantes. Os assírios, célebres pela sua habilidade no comércio, instalaram-se na região atraídos por suas riquezas e organizaram bazares chamados Kârum. O Kârum mais importante foi a cidadela de Kanesh (hoje Kültepe). Os assírios levavam estanho, têxtis e perfumes e mercadejavam ouro, prata e cobre na Anatólia. Este tipo de comércio durou cerca de cento e cinquenta anos até que se dispersou pelas guerras entre os reinos da região. Em 1925, uma equipe arqueológica descobriu em Kültepe as chamadas "Tábuas da Capadócia", que descrevem esta colônia mercantil em tempos assírios e que marcam o registro escrito mais antigo conhecido sobre a história da Capadócia.
Ilustração da antiga Kanesh assíria
Ruínas de Kanesh
A civilização hitita floresceu na Anatólia central, no segundo milênio a.C., tendo Hatusa (hoje Boğazköy) como o seu centro de poder na região. Sucedendo aos hatitas que nomearam a região de Hati, os hititas fundaram e conquistaram várias cidades e em conjunção com os habitantes da região fundaram um império que chegou a ameaçar a Babilônia e submeteu vários reinos vizinhos. O Império Hitita durou cerca de cinco séculos atingindo nos séculos XVI e XV a.C. o período de maior desenvolvimento de sua civilização. Ao lado, relevo retratando guerreiros hititas. As guerras com o Egito (que culminariam no tratado de paz de Kadesh, c. de 1286 a.C.) e contra os kaskas desgastaram seu império, que finalmente caiu ante os invasores do oeste (Povos do Mar) e do norte (kaskas). Após a queda do Império Hitita, a Capadócia atravessou o período mais obscuro de sua existência entre os séculos X e VII a.C. Por fim, a Capadócia caiu sob domínio dos Persas no século VI a.C. que mantiveram a região até a conquista por Alexandre, o Grande (356 – 323 a.C.), dois séculos depois. Os persas dividiram a Anatólia em províncias (satrápias), atribuindo um governador (sátrapa) a cada uma. As satrápias estavam ligadas ao porto de Éfeso, ao oeste, pela estrada real, que começava na mesma cidade e passava pelas cidades de Sardes e Mazaca (antiga capital da Capadócia; hoje Kayseri), chegando a Mesopotâmia e a Susa, capital da Pérsia. Os sátrapas enviavam à Pérsia os impostos que arrecadavam, em forma de ouro, carneiros, burros e os famosos cavalos de Capadócia, os quais deram o nome definitivo à região (Katpatuka: Terra de Belos Cavalos). Abaixo, mapa do Império Persa.
No século IV a.C., o conquistador macedônio Alexandre, o Grande, empreendeu a conquista do Império Persa e acabou por subjugar a Capadócia. Deixou o seu tenente Cabictas para controlar a região, a qual esteve sob o domínio macedônio até a morte de Alexandre (323 a.C.). Pouco tempo depois, a Capadócia conseguiu sua independência e soberania sob a liderança de Ariarates I (331 - 322 a.C.), seu primeiro rei, cuja dinastia governou por cerca de 300 anos. No entanto, deve se assinalar que o título de rei (o grego basileus) só foi usado a partir de Ariarates III (255 -220 a.C.). Abaixo mapa do Império de Alexandre, o Grande.
Os reis da Capadócia eram de origem persa (segundo o historiador grego Diodoro Sículo suas origens remontam ao fundador do Império Persa, Ciro, o Grande) , mas o reino evoluiu para um estado helenístico-oriental vivendo as vicissitudes geopolíticas do período entre a queda do Império Greco-Macedônico e a ascensão do Império Romano. A Capadócia começou suas relações com Roma sob o reinado de Ariarates IV (220 – 163 a.C.), primeiro como inimigos (apoiando a causa de Antíoco, o Grande, rival de Roma na Ásia), e depois como aliados, lutando contra Perseu da Macedônia, rival dos romanos na Europa. Desde então, a Capadócia aliou-se sempre com a República Romana. Em 130 a.C. Ariarates V marchou junto do procônsul romano Crasso contra Aristônico, que reclamava o trono de Pérgamo. Ariarates V foi liquidado junto com seu exército, o que trouxe lutas internas pelo trono que marcaram o fim da dinastia. Abaixo, o Reino da Capadócia no século III a.C.
A Capadócia então escolheu um líder local chamado Ariobarzanes I, com o apoio de Roma, em 93 a.C. Este só realmente reinou após o fim das Guerras Mitridáticas (88 - 65 a.C.). Na guerra civil (49 - 45 a.C.) que Roma teve antes da ascensão ao poder de Júlio César, a Capadócia mudou de lados entre Pompeu e César. Posteriormente, a dinastia de Ariobarzanes terminaria e a região manteria a sua independência tributária até o ano de 17, quando o imperador Tibério reduziria à região a província romana. Duas legiões romanas formaram guarnições permanentes sob o imperador Vespasiano (69 – 79 a.C.), que buscava proteger as províncias orientais. As guarnições aumentaram e converteram-se em fortalezas sob Trajano (98 – 117 a.C.), que também construiu vias militares na região que tinha grande importância estratégica. Abaixo, mapa do Império Romano em 117 d.C. À direita, em baixo, vê-se a província da Capadócia.
O cristianismo floresceu desde cedo na Capadócia. Segundo a Bíblia, os judeus da Capadócia estavam presentes em Jerusalém, na Festa de Pentecostes de 33 d.C.. (Atos 2.9). A comunidade cristã da Capadócia estava entre aqueles a quem o apóstolo Pedro se dirigiu na sua primeira epístola (1 Pedro 1.1). A partir do século IV Capadócia sofreu uma transformação influenciada pelos mosteiros da Palestina e Egito, cujos os modelos foram seguidos na introdução da religião cristã sob o patrocínio do Império Bizantino. Nos séculos VI e VII, apareceram as primeiras igrejas pintadas. Estas igrejas, assim como a maioria das casas da região, não eram construídas como edifícios, mas sim escavadas na rocha. Essas cavernas artificiais eram depois decoradas e condicionadas para abrigarem os fiéis e o culto. Existem mais de seiscentas igrejas dessas na região. O período iconoclasta de Constantinopla (anos 725 a 843) teve sua repercussão nas igrejas da Capadócia e numerosas pinturas murais sofreram danos, pois fora proibida a representação de imagens de Cristo e dos santos. Abaixo, "igrejas das rochas" na moderna Capadócia.
Os seljúcidas, considerados ancestrais diretos dos turcos ocidentais, começaram a chegar a Capadócia a partir do século XI, após a Batalha de Manzikert em 1071, onde derrotaram o exército bizantino e começaram a conquista paulatina do território. Após a tomada de Kayseri em 1082, os seljúcidas iniciaram uma grande expansão urbanística na região, construindo mesquitas em Kayseri, Aksaray, Niğde e outras cidades e uma academia de medicina em 1206. Além disso, construíram inúmeros refúgios (caravansaray) para as caravanas que transitavam a Rota da Seda; os comerciantes pernoitavam de forma segura em seu trajeto e alguns tinham serviços adicionais como enfermagem e mesquitas. Os caravansarays estavam dispersos por toda a Anatólia, distanciados a cerca de 30 km entre si, e em tempos de guerra, serviam como postos de defesa do território. O Império Turco Otomano surge a partir do século XV expandindo-se da Ásia até a Europa oriental e retraindo-se até sua consolidação moderna na atual República da Turquia (1923) a qual pertence a Capadócia. A região, devido a suas peculiaridades histórico-culturais e a beleza de suas paisagens atraem todos os anos milhares de turistas que praticam, além de caminhadas, o balonismo. Abaixo, balões sobrevoando a Capadócia.
REFERÊNCIAS:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Capadócia
http://gl.wikipedia.org/wiki/Capadocia
http://www.hotelle.com/cappadociamaps.asp
http://www.museum.agropolis.fr/english/pages/expos/fresque/zm_mod6b.htm
http://historyofscience.com/G2I/timeline/images/catal_huyuk_map.jpg
http://www.bertsgeschiedenissite.nl/boeren/eeuw25/eeuw23anatolie.html
http://www.nusd.k12.az.us/schools/nhs/gthomson.class/wh/08_09WH/greece.htm
http://remacle.org/bloodwolf/historiens/diodore/livre25.htm#XXXI